Antropologia e Sociologia da Educação I CULTURA E SOCIALIZAÇÃO
CULTURA E SOCIALIZAÇÃO
Enquanto a aviação militar dos EUA e da Inglaterra bombardeavam ferozmente as cidades do Afeganistão, em lugares mais remotos do país aviões de carga sobrevoavam minúsculas aldeias, cobrindo-as com pacotes de alimentos. Quando isso acontecia, centenas de aldeões corriam para recolher, com evidente entusiasmo, o presente que vinha do céu. A alimentação padrão dos afegãos consiste basicamente de pão, carne de carneiro e arroz, mas ninguém reclamava: “a comida é deliciosa”, dizia um homem, de turbante, muito magro, preocupado em carregar o maior número possível de pacotes com coisas de que os americanos gostam (creme de amendoim, geléia e feijão temperado). “Esta vai ser a primeira vez depois de muito tempo que vou ficar de barriga cheia”, assegurava. Os afegãos comem com as mãos, mas os ‘kits’ vindos dos Estados Unidos traziam talheres plásticos e envelopes de sal e pimenta; em cada pacote havia instruções impressas em inglês, francês e espanhol, bem diferentes da língua de lá. Nada disso, porém, os deixava perturbados; pelo contrário: ”vamos fazer uma festa”, diziam, enquanto tratavam de levar os pacotes amarelos, agradecendo a boa sorte, em meio a tantas desgraças (The New York Times, Oct. 2001). Por outro lado, quem poderia imaginar, décadas atrás, que os olhos das crianças brasileiras um dia brilhariam ansiosos diante de um gordurento sanduíche de carne moída ou de um copinho de coalhada industrializada? Confiando em mudanças culturais desse tipo – que fizeram, por exemplo, o iogurte, que no início era apenas um leite azedo que servia de alimento básico nas montanhas da Bulgária, transformar-se em coqueluche da garotada e de muitos adultos, no Brasil e no mundo inteiro --, a indústria alimentícia na atualidade aposta até mesmo na modificação do rústico paladar dos afegãos. Assim sendo, que importa o que eles estão acostumados a comer, se não sabem usar talhares, ou não conhecem