Antropologia - damatta
Casa, rua e outro mundo:
O caso do Brasil*
Bibliografia: DAMATTA, Roberto. A Casa & a Rua – Espaço, Cidadania, Mulher e Morte no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1997.
Para Damatta o espaço se confunde com a própria ordem social de modo que, sem entender a sociedade com suas redes de relações sociais e valores, não se pode interpretar como o espaço é concebido. Nas cidades brasileiras, a demarcação espacial (e social) se faz sempre no sentido de uma gradação ou hierarquia entre centro e periferia, dentro e fora. Existe também no Brasil um sistema cultural rígido onde os espaços específicos estão socialmente equacionados a atividades específicas: não dormimos na rua, não fazemos amor nas varandas, não comemos com comensais desconhecidos, não ficamos nus em público, não rezamos fora das igrejas etc. Na sociedade brasileira existem espaços, esferas de significação social (casa, rua e outro mundo) que fazem mais do que separar contextos e configurar atitudes, eles contêm visões de mundo ou ética particulares.
A casa, a rua e o outro mundo demarcam fortes mudanças de atitudes, gestos, roupas, assuntos, papéis sociais e quadro de avaliação da existência em todos os membros de nossa sociedade. Não se pode misturar o espaço da rua com o da casa sem criar alguma forma grave de confusão ou até mesmo conflito. Sabemos e aprendemos muito cedo que certas coisas só podem ser feitas em casa e, mesmo assim, dentro de alguns dos seus espaços. Devo comer na sala de jantar, posso comer na varanda no caso de uma festa, mas não posso mudar de roupa na sala de visitas; dentro da própria casa existe uma rigorosa gramática de espaços e, naturalmente, de ações e reações. A casa é concebida como espaço de calma, repouso, recuperação e hospitalidade, enfim, tudo aquilo que define a nossa idéia de “amor”, “carinho” e “calor humano”, a rua é um espaço definido precisamente ao inverso.
A rua é um local perigoso, local de individualização, de luta, de malandragem; zona