Antologia
Pode ser que alguém duvide da possibilidade de aproximação entre textos aparentemente tão díspares, quanto os reunidos nesta breve antologia. Digo aparentemente, porque em termos de leitura e Literatura quase tudo é possível, guardadas as devidas proporções. A primeira argumentação contrária à possível aproximação, seria o fato desses textos pertencerem a autores tão diferentes, e a estilos e gêneros mais diferentes ainda. O lirismo dum João Garcia de Guilhade e de sua Cantiga de Amor estaria muito acima do “anti-lirismo” dum Drummond. Ou ainda, a linguagem atrevida do cinema, tão presente em Closer, enrubesceria a face dum Camões. Mesmo que em parte, essas afirmações sejam verdadeiras, naquilo que diz respeito ao universo da recepção, a convivência entre esses textos é extremamente pacífica e em nada incomoda o leitor. Isso porque, independente da matéria de que tratam e do modo como a tratam, os autores aqui reunidos conseguem tocar fundo nos nossos corações, despertando em nós emoções e sentimentos muitas vezes adormecidos.
É por isso que intitulei esta antologia de Cenas de Amor na Idade Mídia; porque acredito que estes textos despertam o nosso coração para sentimentos que a vida moderna nos impede de vivenciar. Eles reproduzem, de forma intensa e bela, todas aquelas emoções, por vezes contraditórias, que formam o nosso viver: paixão, ódio, morte, solidão... Mas, em geral, falam de amor, mesmo que lateralmente, mesmo que às vezes para falar de amor, tenham que falar de desamor. O que veremos aqui, então, são cenas de expressão desse amor, amor a uma mulher, a um homem, a entes queridos, e às vezes até a si mesmo.
A primeira cena, manifesta nos dois primeiros textos que compõe esta coletânea: Fita verde no cabelo e Coração de Luto, nos dirige à infância, a uma infância perdida, para ser mais exato. A imagem da criança brincando feliz pelo bosque, ou chorando e gritando no colo da ama, já não tem lugar nesses textos. Não há lugar para chorar,