Antologia poetica
Por que ler, hoje, poesia do século XIX?
A literatura é um veículo de informação que em todas as épocas, retrata pontos de vistas e críticas que podem servir até de documentos, dependendo de quem a fez e em qual situação. E também para o conhecimento, o que os autores das obras pensavam viam e sentiam.
A mulher- Fagundes Varela
A mulher sem amor é como o inverno
Como a luz das antélias no deserto
Como o espinheiro de isoladas fragas
Como das ondas o caminho incerto
A mulher sem amor é Mancenilha
Das ermas plagas sobre o chão crescida
Basta-lhe à sombra repousar um'hora
Que seu veneno nos corrompe a vida
De eivado seio no profundo abismo
Paixões repousam num sudário eterno
Não há canto nem flor, - não há perfumes
A mulher sem amor é como o inverno
Su'alma é um alaúde desmontado
Onde embalde o cantor procura um hino
- Flor sem aromas, - sensitiva morta
- Batel nas ondas a vagar sem tino
Mas se um raio do sol tremendo deixa
Do céu nublado a condensada treva
A mulher amorosa é mais que um anjo
- É um sopro de Deus que tudo eleva
Como o árabe ardente e sequioso
Que a tenda deixa pela noite escura
E vai no seio de orvalhado lírio
Lamber a medo a divinal frescura
O poeta a venera no silêncio
Bebe o pranto celeste que ela chora
Ouve-lhe os cantos, - lhe perfuma a vida
- A mulher amorosa é como a aurora
O poema idealiza a mulher, mostrando que sem o amor ela não é nada. Em certas estrofes, ela é comparada com o “inverno”: fria e triste. Porém, a “mulher amorosa” é como a aurora: sempre iluminada.
Salmo I- Fagundes Varela
Ditoso o justo que afastado vive
Do concílio dos maus e do caminho
Trilhado por perversos pecadores!
E que nunca ensinou, bem como o ímpio,
Do negro vício as máximas corruptas!
Ditoso o homem que fiel concentra
De seu Deus criador na lei divina
Todo o seu pensamento e seu afeto,
E nela só medita noite e dia!
Ele será qual árvore frondosa,
Banhada por arroios cristalinos,
Que