ANTOINE
A catarse de Truffaut em sua arte:
As aventuras de Antoine Doinel
TAMARA CARLA DOS SANTOS
Santo Amaro - BA
2014
Apaixonado pela sétima arte desde a infância, François Truffaut, antes de se tornar cineasta, teve uma sólida carreira como crítico de cinema da revista francesa Cahiers du Cinéma. Após ter sido preso por desertar da carreira militar, quem conseguiu sua admissão na revista foi André Bazin¹, que se tornou uma espécie de pai para Truffaut. Seu primeiro longa-metragem deu início à saga da vida de seu alter-ego: Antoine Doinel. Tal saga, que recebe o nome de As Aventuras de Antoine Doinel, acompanhou por vinte anos os passos desse sujeito ímpar, sempre imortalizado pelo mesmo ator, Jean-Pierre Léaud.
O primeiro filme, Os Incompreendidos (Les quatre cents coups, 1959), foi dedicado à Bazin². Nele, somos apresentados a Antoine. Uma criança de 13/14 anos que cresce em um lar conturbado, onde recebe mais atenção do padrasto que da mãe adúltera. São evidentes as semelhanças com a vida de Truffaut, um adolescente rebelde e aspirante a delinquente que fugia da escola para assistir a filmes. Truffaut depositava, em sua rebeldia, a indignação por não ter tido uma infância padrão. Mas quando percebeu que poderia fazê-lo em sua arte, não hesitou. Em Os Incompreendidos, ao retratar sua própria vida, ele passou por uma espécie de catarse que deu sentido a tudo o que ele viveu, sofreu, sentiu e, principalmente, deu sentido ao que ele se tornou. O filme explica a gênese de quem é o prodígio François Truffaut. Dora Bay, em seu artigo Arte & Sociedade (2006), analisa a visão de Freud sobre a arte, dizendo que para ele, “a arte teria o poder de liberar o artista de suas fantasias, permitindo-lhe exorcizar os fantasmas interiores, canalizando-os para a obra, num processo catártico e terapêutico”. Essa visão está claramente associada à façanha de Truffaut em sua estreia. Na cena final³ de Os Incompreendidos, vê-se Antoine na