Antiguidades-Cora Coraliana
576 palavras
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AntiguidadesQuando eu era menina
Bem pequena, em nossa casa, certos dias da semana se fazia um bolo, assado na panela com um testo de borralho em cima.
Era um bolo econômico, como tudo, antigamente.
Pesado, grosso, pastoso.
Por sinal que muito ruim.
Eu era menina em crecimento.
Gulosa, abria os olhos para aquele bolo que me parecia tão bom e tão gostoso.
A gente mandona la de casa
Cortava aquele bolo
Com importância.
Com atenção.Seriamente.
Eu presente.
Com vontade de comer o bolo todo.
Era so olhos e boca e desejo
Daquele bolo inteiro.
Minha Irma mais velha
Governava.Regrava.
Me dava uma fatia,
Tão fina, tão delgada...
E fatias iguais as outras manas.
E que ninguém pedisse mais.
E o bolo inteiro quase intangível,
Se guardava bem guardado,
Com cuidado,
Num armário alto, fechado
Impossível.
Era aquilo uma coisa de respeito.
Não pra ser comido
Assim sem mais nem menos.
Destinava-se às visitas da noite,
Certas ou imprevistas.
Detestadas da meninada.
Criança no meu tempo de criança,
Não valia mesmo nada.
A gente grande da casa
Usava e abusava
De pretensos direitos
De educação
Por dá-cá-aquela-palha, ralhos e beliscão.
Palmatória e chineladas não faltavam.
Quando não, sentada no canto de castigo fazendo trancinhas, amarrando abrolhos.
"Tomando propósito".
Expressão muito corrente e pedagógica.
Aquela gente antiga, passadiça, era assim: severa, ralhadeira.
Não poupava as crianças.
Mas, as visitas...
- Valha-me Deus !...
As visitas...
Como eram queridas, recebidas, estimadas, conceituadas, agradadas !
Era gente superenjoada.
Solene, empertigada.
De velhas conversas que davam sono.
Antiguidades...
Até os nomes, que não se percam:
D. Aninha com Seu Quinquim.
D. Milécia, sempre às voltas com receitas de bolo, assuntos de licores e pudins.
D. Benedita com sua filha Lili.
D. Benedita - alta, magrinha.
Lili - baixota, gordinha.
Puxava de uma perna e fazia crochê.
E, diziam dela