Anotações sobre o registro do Real em Lacan
Segundo Marco Antônio Coutinho Jorge, o Real é aquilo que escapa tanto do simbólico quanto do imaginário, ou seja, algo que não conseguimos explicar com palavras ou imagens. Ao Real falta representação psíquica. Enquanto o Imaginário seria da ordem do sentido e o Simbólico da ordem do duplo-sentido, o Real seria da ordem do não sentido, do não senso, da ausência de sentido.
Segundo MAC, Freud trata de duas realidades diferentes, um delas sendo psíquica ou interna, e a outra sendo material ou externa. O Real lacaniano não é a realidade. A realidade é constituída por uma trama simbólico-imaginária, feita, portanto de palavras e imagens, ao passo que o real é precisamente aquilo que não pode ser representado por palavras ou imagens. Para Lacan, a realidade é uma construção da fantasia para ajudar o sujeito a fazer face ao Real inominável.
O campo do Real é o campo da “coisa” (Das Ding). Ao contrário da realidade, o real existe por si mesmo, escapa ao nosso desejo e ao nosso poder. Aconteça o que acontecer, amanhece. Queiramos ou não, o sol se põe e nasce, embora falar disto também seja uma armadilha do simbólico, pois o Sol, na verdade, nem nasce no Leste e nem se põe no Oeste. Ele está lá e pronto. Queiramos ou não, a tempestade, o furacão e a seca advêm e o ser humano nada pode contra isso. Portanto, o real escapa à nossa subjetividade, escapa ao desejo humano de domínio completo sobre si mesmo.
O Real lacaniano pode ser representado pelo furo, o qual está relacionado à falta originária, que jamais poderá ser preenchida, que é a falta de inscrição da diferença sexual no inconsciente. Enquanto qualquer outro animal é dominado pelo Imaginário e é pleno, sem este furo, o ser humano, ao contrário, é o falasser, o ser constituído pela fala. O furo (em francês, “trou”), é a fonte do trauma, razão pela qual Lacan introduz o neologismo “troumatisme”, ao invés de “traumatisme”, para dizer que o verdadeiro trauma é