Anorexia
A anoréctica aproxima-se da tentação mística para ordenar o mundo de acordo com o ascetismo da sua vida afectiva e sensorial. Dá a impressão que se encontra numa espécie de além, numa procura do impossível, sempre a caminhar para uma maior privação. Arrasta o outro para a vacuidade do seu desejo, dando a este outro a sensação de que a pode salvar do vazio, preenchendo-o com o seu amor. Mas a esperança de a poder ajudar é sempre defraudada. Ela ilustra perfeitamente o paradoxo de existir no apagamento e na ausência.
A bulímica está na invasão e na plenitude da carne. Ela capta o outro como capta a comida. Sabe envolver, manipular, adoptar e ingerir. Com ela, a fusão é inevitável, já que a sua generosidade é manifesta, pode ser mãe para cada um. Mas por detrás desta mãe esconde-se o desejo pela própria mãe. O seu sacrifício está bem escondido, o que a leva a abandonar o seu corpo para se envolver no da mãe.
Frequentemente, a adolescente percorre um caminho que se situa entre estas duas formas de exercício de poder. Por todas as razões que encontrámos nos exemplos clínicos, subsiste a necessidade de nos pormos no lugar dos pais, ou de um deles, com o objectivo de colocar uma certa estabilidade e lei na vida familiar.
Quando a adolescente fica esgotada com o controlo absoluto, deixa-se cair no relaxamento total. Mas os elos de dependência e de protecção mútua perduram, as preocupações dos pais são sempre vivazes. Seja na anorexia ou na bulimia, esta rapariga representa no seu corpo, nem que seja de forma metafórica, as trocas de prerrogativas entre adultos e