Anne MENELAU
O livro começa bem misterioso, enigmático a partir do título: Menelau? Quem é? E os homens, quem são?
“Os homens não são bichos de confiança.”
“…Estava diante daquela criatura de olhar terno e amigo, que, com certeza, não o deixaria jamais; mas ele, Davi, por um instante relativizou a amizade e questionou aquilo de ser leal. Olhou de novo para Menelau — atento a fitá-lo — e sentiu vergonha de si próprio. Apagou o cigarro, desceu do monolito e voltou para o curral de pedras. Menelau o seguiu, como sempre…”
Dois homens em fuga. Eles fogem debaixo de um sol de rachar e têm muita fome. Menelau e o amigo Davi fogem de quê, de quem? O motivo da fuga começa a ser revelada na pág. 23, quando Davi escreve uma carta ao amigo Viriato. A sensação dos amigos era que o “silêncio da morte” os espreitava na noite do sertão estrelado.
(…) em sonho tudo se pode. (p.29)
O autor vai contando o dia a dia desses homens que viviam e fugiam em condições adversas, como se fossem dois animais prestes a serem capturados. Os pensamentos, sonhos, sensações de homens simples, que não parecem ser bandidos nem malfeitores. Aí vem a grande surpresa: até a página 33 acreditei piamente que Menelau era um homem. Não… é um cachorro! Fantástico, nem passou pela minha cabeça! O autor mostrou como a amizade entre homem e cão pode ser quase humana (ou melhor, seguramente!). Totalmente original, jamais li nada parecido!
Davi é capturado pelos homens do Intendente e pede para Mené ficar lá e o cão obediente, fica. A narrativa passa a acontecer sob os olhos do cachorro Menelau. Era o animal que sentia pena do homem e ele tenta entender o comportamento do mesmo. Sentia saudade de Davi. A narrativa toda é muito visual, rica, muito descritiva, é fácil imaginar as paisagens e as cenas, como num filme. Depois da captura de Davi, a vida desse muda para muito melhor do que o esperado e ele esquece Menelau. Depois de um ano, por acaso, volta ao mesmo lugar onde tinha ficado