Anjos ou deuses - ricardo reis
“Anjos ou deuses” é uma das odes de Ricardo Reis, escrita em 1914 e inicialmente preparada para inserção no chamado “projecto de 1914”.
Quanto à sua análise, diremos o seguinte:
Inserção na obra e no autor:
Não podemos falar de uma “Obra de Ricardo Reis”, porque em rigor Fernando Pessoa não chegou a preparar as odes e demais poemas deste heterónimo numa forma que nos levasse a falar numa obra congruente e definida. Por isso, a ode em questão enquadra-se no quadro das odes iniciais, nomeadamente aquelas inseridas num projecto de 1914, no que mais se aproxima de um verdadeiro livro de odes de Ricardo Reis, que nunca chegou verdadeiramente a existir. Mas mesmo assim, é uma ode clássica de Reis, marcada pelo rigor da forma e pela escolha do tema.
Tema e assunto:
O tema desta ode será os deuses, ou mais propriamente a relação entre homens e deuses. Trata-se de um tema recorrente em Reis, e um tema da poesia clássica da antiguidade, presente nomeadamente em Horácio, grande inspirador deste heterónimo.
Sentimentos do eu poético:
Julgo que o sentimento prevalente de Reis seja a aceitação objectiva de um facto. Se é verdade que Reis muitas das vezes se angústia com o seu pensamento, aqui ele constata o que para ele é um facto objectivo – que os homens se relacionam com os deuses, como o gado se relaciona com os homens. Se algo transparece é uma óbvia desilusão com a realidade, porque ao mesmo tempo que assume a consciência da verdade, o poeta assume a inconsequência de querer saber mais. O eu poético pode assim dizer-se fracturado, incapaz, mas sobretudo consciente.
Estrutura externa:
A métrica identifica-se como sendo derivada da métrica clássica das odes horacianas: a estrofe alcaica Horaciana - odes de quatro versos, com versos brancos e sem rima. Dá por isso total corpo à estrutura maior: Estrofe, antístrofe e epodo – tema, desenvolvimento (resposta ao tema) e conclusão do poema.
Análise estilística: