anjos de vidro
Fernando Vieira Peixoto Filho (UFRRJ)
Chaïm Perelman & Lucie Olbrechts-Tyteca evidenciam, em seu Tratado da Argumentação, que a violência é a negação dos argumentos. A agressividade ganha corpo e vigor onde não há discursos. Perde-se, então, o sentido de humanidade. O homem deixa de ser homem para transformar-se no anti-humano – indivíduo que grita, bate, ofende ou silencia (agressão do isolamento).
Dado que a interação discursiva é o que nos configura como homens, cabe discutir acerca dos motivos pelos quais essa interação aconteceria. O termo acontecimento remete a Michel Pêcheux, que enxerga o discurso como um fenômeno histórico, amarrado a fatos que compõem a trajetória individual e coletiva dos homens.
O discurso é acontecimento para Pêcheux, mas Oswald Ducrot, em sua macrossintaxe do discurso, prova satisfatoriamente que, no plano do discurso, tudo que acontece decorre de aspectos pragmáticos. O discurso do outro precisa nos interessar por alguma razão (afetiva, intelectual, material).
Em síntese, para que perca espaço a violência, é necessário haver interação discursiva; esta, porém, depende de nossos interesses e intenções, na medida em que o discurso do outro precisa vir a encontro do nosso ego ou superego. Origina-se estritamente aqui toda a confusa e sangrenta história da violência entre os homens: no esfacelamento do ego e na estruturação inadequada do superego. Somos interesseiros demais.
Temos uma dificuldade terrível de nos colocar no lugar do outro para entender o seu mundo, suas dificuldades, seus anseios. Em geral, quando tentamos entender o universo alheio, é em nosso próprio universo que estamos interessados.
Os quatro parágrafos acima representam uma tentativa de discorrer sobre o filme Anjo de Vidro, de
Chazz Palminteri. É que a obra aborda a questão da compreensão. Quis a história do mundo que o ser humano fosse um animal de compreensão e, na ausência dela, um animal extremamente violento e mesquinho. Em