Analítica
Na neurose existem duas tendências, que estão em estrita oposição uma à outra, sendo que uma delas é inconsciente. O neurótico é apenas um caso específico de pessoa humana em conflito consigo mesma, tentando conciliar dentro de si natureza e cultura.
Como é sabido, o processo cultural consiste na repressão progressiva do que há de animal no homem; é um processo de domesticação que não pode ser levado a efeito sem que se insurja a natureza animal, sedenta de liberdade. A neurose está intimamente entrelaçada com o problema do próprio tempo e representa uma tentativa frustrada do indivíduo de resolver dentro de si um problema universal. Na maioria das pessoas, essa cisão representa uma ruptura entre o consciente, que desejaria manter-se fiel a seu ideal moral, e o inconsciente, que é atraído por seu ideal imoral (no sentido atual da palavra) e que a consciência tudo faz para desmentir. A orientação da pesquisa freudiana tentava demonstrar a primazia do fator erótico-sexual na origem do conflito patogênico. Segundo essa teoria, há uma colisão entre a tendência do consciente e o desejo imoral, incompatível, do inconsciente.
Quer reprimir-se, por um lado, e libertar-se, por outro. A este conflito damos o nome de neurose. Segundo Freud, o sintoma é, portanto, uma realização desejos não reconhecidos, que, se fossem reconhecidos, entrariam em violenta oposição às convicções morais.
Segundo a teoria freudiana da repressão, parece, no entanto, que só as pessoas de moralidade excessiva reprimem sua natureza instintiva. Logo, a pessoa imoral, que não põe freios aos seus instintos, deveria ser completamente imune à neurose. A experiência nos ensina, evidentemente, que não é este o caso. Esta pode ser tão neurótica quanto aquelas. A análise de uma pessoa imoral revela que houve simplesmente uma repressão do lado moral. Um neurótico imoral é a imagem do "pálido criminoso", que não está à altura do seu ato,