Analise do filme crash
O filme Crash está imerso no contexto dos EUA pós-11 de Setembro, já então marcado pela perda de credibilidade do governo Bush quanto ao papel dos EUA na intervenção no Iraque. Daí, uma certa descrença nas instituições se combina com o aumento da sensação de insegurança e com a expressão do medo de aniquilação através de comportamentos desconfiados, agressivos e preventivos contra “negros” e “imigrantes”, assim como entre negros e imigrantes, que também definem distinções sociais entre si conforme a sua maior ou menor eficácia de aproximação em relação ao modelo “branco” de classe média próspera e letrada. Deste modo, em vez de demonstrar o maniqueísmo característico dos discursos oficiais do governo americano, o filme expõe uma fantástica “zona cinza” e não-linear, em que as díades Bem/Mal, Branco/Negro, Insider/Outsider e Vítima/Algoz são desconstruídas ao longo da trama, demonstrando que pensar responsabilidades envolve uma profunda auto-reflexão do próprio modelo civilizacional das relações sociais.
De modo bastante interessante, o filme Crash trabalha a complexidade do ser humano, revelando seus limites, suas contradições e suas diferentes atitudes quando sujeito a um determinado momento ou situação histórica. O seu principal mérito é nos conduzir a pensar sobre os preconceitos existentes no mundo moderno. O silêncio ao qual estamos habituados sobre esses fatos ilude a ponto de fazer supor que eles não existem ou que não possuímos responsabilidade sobre eles; assim, equivocadamente, passa-se a acreditar que eles são valores naturais aos seres humanos. Deste modo, nega-se