Analise de poemas Carlos Drummond de Andrade

1719 palavras 7 páginas
Carlos Drummond de Andrade

Poemas
A Máquina do Mundo

E como eu palmilhasse vagamente uma estrada de Minas, pedregosa, e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatos que era pausado e seco; e aves pairassem no céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindo na escuridão maior, vinda dos montes e de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia.

Abriu-se majestosa e circunspecta, sem emitir um som que fosse impuro nem um clarão maior que o tolerável

pelas pupilas gastas na inspeção contínua e dolorosa do deserto, e pela mente exausta de mentar

toda uma realidade que transcende a própria imagem sua debuxada no rosto do mistério, nos abismos.

Abriu-se em calma pura, e convidando quantos sentidos e intuições restavam a quem de os ter usado os já perdera

e nem desejaria recobrá-los, se em vão e para sempre repetimos os mesmos sem roteiro tristes périplos,

convidando-os a todos, em coorte, a se aplicarem sobre o pasto inédito da natureza mítica das coisas,

assim me disse, embora voz alguma ou sopro ou eco ou simples percussão atestasse que alguém, sobre a montanha,

a outro alguém, noturno e miserável, em colóquio se estava dirigindo:
"O que procuraste em ti ou fora de

teu ser restrito e nunca se mostrou, mesmo afetando dar-se ou se rendendo, e a cada instante mais se retraindo,

olha, repara, ausculta: essa riqueza sobrante a toda pérola, essa ciência sublime e formidável, mas hermética,

essa total explicação da vida, esse nexo primeiro e singular, que nem concebes mais, pois tão esquivo

se revelou ante a pesquisa ardente em que te consumiste... vê, contempla, abre teu peito para agasalhá-lo.”

As mais soberbas pontes e edifícios, o que nas oficinas se elabora, o que pensado foi e logo atinge

distância superior ao pensamento, os recursos da terra

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