Ana sem terra
“Ana Sem Terra”, do gaúcho Alcy Cheuiche, é um maravilhoso romance histórico capaz de entrelaçar em um interessantíssimo enredo ficcional grandes momentos da História do Brasil: a imigração européia (principalmente alemã e italiana) no século XIX, a ditadura militar, a teologia da libertação nas lutas sociais latino-americanas, a luta pela reforma agrária que permeia diversos momentos. Relacionando na ficção uma família de colonos alemães, uma família de latifundiários gaúchos e alguns políticos e militares, Alcy Cheuiche é capaz de mostrar também que a História é um entrelaçado de acontecimentos relacionados que não podem ser dissociados em análise, com o risco de se perder o real sentido das coisas.
A idéia do romance surgiu em um poema de mesmo nome, escrito em 1984 pelo mesmo autor:
Sentada no chão com o filho no colo mendiga seu pão.
Moedas pequenas, na grande pobreza, recebe do povo na palma da mão.
É Ana Sem Terra, nascida na serra em meio à fartura das uvas maduras dos louros trigais.
Também foram louros seus longos cabelos que um homem moreno amava demais.
A casa dos dois, distante tapera, ficou lá na serra com o cheiro do campo e a fala dos bichos que ainda cochicham na sua memória.
É Ana Sem Terra tão longe da serra tão longe da vida que não volta mais.
É Ana Sem Terra vencida na guerra de um dia de paz.
Ana Schneider, bisneta de uma imigrante alemã de mesmo nome (personagem real), nasce e cresce em meio a muitas dificuldades em um minifúndio arenoso no litoral do RS. Rafael Pinto Bandeira Khalil, neto de um latifundiário, Silvestre Pinto Bandeira, conhece o irmão de Ana, o padre Willy, no quartel de Alegrete, onde servem ambos como soldados às vésperas do Golpe de Estado de 1964, juntamente com o sargento Bóris Cabrini. Esses são talvez os principais personagens, juntando-se ao grupo o corrupto deputado J. Camargo, da ARENA, “amigo” de Silvestre, apesar de inúmeras discordâncias