An Lise Do Discurso De Um Objeto
Cidadão - Zé Ramalho
Tá vendo aquele edifício moço
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição, ‘era’ quatro ‘condução’
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
"Tu tá aí admirado ou tá querendo roubar"
Meu domingo tá perdido, vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio que eu ajudei a fazer
Tá vendo aquele colégio moço
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento, ajudei a rebocar
Minha filha inocente vem pra mim toda contente
"Pai vou me matricular"
Mas me vem um cidadão:
"Criança de pé no chão aqui não pode estudar"
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer
Tá vendo aquela igreja moço, onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo, enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena, tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse:
"Rapaz deixe de tolice, não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra, não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas e na maioria das casas
Eu também não posso entrar"
Análise do discurso de um objeto
Análise
Gravada pela primeira vez em 1979 por Zé Geraldo, o pano de fundo dessa música no contexto histórico social é a Ditadura Militar.
O Discurso que é empregado, ou seja, a materialidade da ideologia existente nesta letra, consciente e inconsciente também é muito nítido e infelizmente bem atual: o Discurso nada mais é que o lamento, a angústia do imigrante que fugiu da seca em busca de VIDA (Por que é que eu deixei o norte Eu me pus a me dizer Lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava Tinha direito a comer). É a dor que massacra o pai, que vê surgir de suas mãos calejadas o prédio da “instituição de ensino”, que apregoa o