Amor de escambo
Olhares entrecortados. Vozes trêmulas. Mãos suando frio. A sensação de estar flutuando e sonhando acordado. Quando a matéria é amor os sintomas são adversos. O diagnostico precipitado, todavia, nem sempre reflete a situação real por trás de supostas uniões “apaixonadas”.
Há um estereotipo facilmente difundido de que no passado as relações afetivas aconteciam em larga escala. A verdade do fatos vem contestar essa premissa ,pois, casamentos eram frequentemente utilizados como moeda de troca. Paixões novelescas eram habitualmente impedidas de continuar se o rapaz ou a moça não procedessem bem financeiramente e moralmente. Aquilo que convencionalmente se chamava de amor estava limitado pelas “grades” dos interesses econômicos e políticos. Exemplo clássico dos matrimônios vendidos está presente na literatura “Senhora” de José de Alencar, em que o herói Seixas vende sua mão para a dama mais rica, Aurélia.
Na era dos relacionamentos “fast food” , a gosto do freguês, o comercio do amor ainda persiste. As ligações interesseiras não tiveram seus valores alterados, só adaptados por uma onda de mutações sociais. O ingresso da mulher no mercado de trabalho possibilitou a liberdade feminina o poder de escolha do parceiro. Os casamentos deixaram de ser forjados pelos patriarcas. Essas mudanças de cunho liberal, entretanto, serviram para transformar o amor em uma commoditie , todos querem comprar uma pessoa bonita, bem sucedida e equilibrada emocionalmente. O amor ainda é moeda de troca, mas está atualizado à contemporaneidade.
Os critérios para distinguir o que é amor, passa por um linha finíssima que separa sentimento e interesse. Se o amor em sua forma pura existe, ele não está presente na sociedade. O que o mundo conhece é um amor egocêntrico e selvagem. Um amor de escambo.
Filipe Ferreira.