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AUGUSTO - Oh! tratante! pensas que me presto a zombar de uma inocente Donzela?
COCOTA - (Canta dentro, e logo Fabrício tira de dentro do bôlso e desenrola um cordel que traz um gancho ou anzol na ponta.)
(Canta) -
Mamãe, de cansada,
Dormiu, coitadinha
E eu triste, sòzinha
Velando fiquei;
Joaquim Manoel de, Macedo
Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 9
Velando cismando,
Em que eu nem sei.
FABRÍCIO - É o sinal de que a mãe está dormindo a sesta.
AUGUSTO - O que é isso, gaudério?
FABRÍCIO - É o cordel clássico que leva o amor positivo no anzol sólido preso à ponta da realidade. (Vai à janela) Ó Cocotinha! A noite se aproxima, e para mim é neste momento que está rompendo a aurora. Quando te vejo sinto brilhar-me o sol nas medulas da traquéia artéria, e o coração me palpita em fogo nos centros frênicos da diafragmada pneumática.
COCOTA - (Dentro) O sr fala muito bem, mas não quer falar a mamãe: vai ser doutor, e eu sou muito pobre para sua noiva.
FABRÍCIO - Cocotinha, o inosso casamento é só questão de tempo; deixe-me fazer exame, e verá! AUGUSTO - Que pouca vergonha! olha que eu desengano a Cocotinha!...
COCOTA (Dentro) - Pois bem, eu creio na sua palavra; por que o amo muito... mas... ah! mamãe espirrou e vai acordar: deite depressa o cordel; quero dar-lhe uns pastéis, que eu mesma fiz para o senhor. (Fabrício deita o cordel)
FABRÍCIO - Beije-os primeiro: quero nos pastéis o néctar dos seus lábios, um beijo em cada um... assim! Oh, Cocotinha! és bela como a Euridice de Faetonte, como a Rosemunda de
Sardanapalo.
AUGUSTO - Charlatão!
FABRÍCIO - Como a Semiranis de Hipócrates, e a Syracura de Praxiteles!... (Puxa o cordel).
COCOTA - (Dentro) Se amar-me sempre, serei para o senhor tudo isso que me diz: adeus! até amanhã! FABRÍCIO - Adeus, aurora boreal!... (Deixa a janela) Seis pastéis de nata! isto é que é namôro: queres um pastel, Augusto?
AUGUSTO -