AM LIA
CONDE (Mexendo-se na cama.) O quê? No café que me acabas de servir?
AMÉLIA (Mais morta do que viva.) Em todos os cafés. (Desmaia.)
CONDE (Correndo para os outros quartos.) Quietos, todos! Quietos, todos! Não bebam o café.
CONDESSA (Está a beber o café.) Que dizes? Estás louco?
CARLOTA E ALDA Pai, não nos meta medo.
CONDE (Desesperado.) Estamos envenenados! Aquele café… Celestino… Os ratos… Essa ignorante da Amélia…
CONDESSA Mas pode-se saber o que aconteceu?
CONDE Vejam só! O veneno dos ratos no café. Maldito Celestino, Maldita Amélia.
CONDESSA E FILHAS (Chorando.) Bebemo-lo todo.
CONDE Depressa, um médico… um farmacêutico… um cirurgião… (Agarra-se ao telefone.) Socorro! Socorro! Doutor… Envenenados… Depressa!
CONDESSA Já sinto o efeito do veneno. Vou morrer. (Desmaia.)
CARLOTA Sinto os suores da morte… Soluços horrorosos. (Desmaia.)
ALDA Morro. (Desmaia.)
CONDE (Com as mãos na cabeça.) Oh, pobre família! Mulher! Filhas! Uma família inteira envenenada com veneno dos ratos! Sinto calor no estômago. É o fim! Onde estamos! Adeus, minhas criaturas. (Cai numa poltrona.)
MÉDICO (Entrando com os enfermeiros.) Depressa, uma lavagem gástrica a todos. (Todos a fazer gargarejos.)
PORTEIRO (Entrando.) Dão licença? Estava a porta aberta. Uma carta para o senhor conde.
CONDE (Voltando-se para o doutor.) Doutor, por favor, leia-me a carta. Estou sem forças.
MÉDICO (Lê.) Gentilíssimo Senhor: Não se incomode. Não precisa de me mandar o pacote. Aquele burro do homem da drogaria acaba de me telefonar advertindo-me que ontem se enganou. Em vez de veneno para os ratos, deu-me açúcar. Podeis ficar com o pacote, considerando que é um modesto presente que vos faço, em paga dos muitos favores que vos devo. Não precisais de me agradecer. Vosso aperfeiçoadíssimo Celestino.
TODOS (Ainda a gaguejar, e com um fio de voz.) Bendito… maldito Celestino