Alimentação
Todo ser vivo se alimenta.
Tal constatação, óbvia ao irritante, flexibiliza-se ao relacionamos a alimentação ao cotidiano dos homens, espécie que, salvo em condições muito extremas, não se contenta em simplesmente saciar a fome.
Na verdade, a alimentação humana provavelmente inaugurou a cultura e cristalizou a identidade dos grupos humanos, desenvolvendo talentos, estimulando as imaginações, tornando-se elemento componente da mística, das guerras, das celebrações, dos lutos e das divisões sociais.
Em sua trajetória evolutiva, o homo sapiens especializou-se em adaptar e elaborar sua alimentação, não só na capacidade de localizar e coletar os ingredientes necessários à sobrevivência, mas em desenvolver técnicas e métodos de cultivo, criação, armazenamento e preparo que constituíram um dos pilares de sua condição natural diferenciada.
No rol destes elementos destacamos o fogo, os utensílios de corte, preparo e guarda, a agricultura, a pecuária, a seleção de alimentos, temperos e demais ingredientes que constituem este processo.
Na verdade, são por estes que o homem superou a condição nômade e logrou a sedentarização, formando os primeiros agrupamentos extensos, organizando as sociedades e definindo sua identidade. Até muito recentemente, alimentar-se era sinônimo de ser feliz.
A ideia de vencer a fome e a sede, desde sempre arvorou-se de contornos místicos, de arrebatamentos de alegria e otimismo, de transcendência e completude. Não é de estranhar que os ritos sociais humanos realizam-se nas mesas (sendo que os altares são antes de tudo os espaços de alimentação das divindades). Assim banquetear-se é viver de novo a intimidade com os deuses, é ganhar o paraíso.
Prof. Flávio Landolpho