Algozes de Deus
O século XX foi o século da morte de Deus. Não só a ciência desprendeu-se definitivamente de qualquer apelo ao sobrenatural, como a maioria das constituições políticas dos novos regimes que surgiram afirmaram sua posição secular e agnóstica, separando-se das crenças. Chegou-se até ao radicalismo soviético que pronunciou-se como um Estado ateu. Se bem que a religião ainda constitui um poderoso fator de mobilização das massas e um, até agora, insubstituível apoio ético e moral, deve-se reconhecer que as elites modernas deram as costas a Deus. Mas esse gigante da religião, da teologia e da imaginação prodigiosa dos homens não morreu de uma vez só. Foi morto aos poucos ao longo do século XIX, de Laplace a Nietzsche.
Deus criou o homem (Miguel Ângelo)
Deus, uma hipótese descartável
Laplace, Deus é uma hipótese desnecessária
Ao enviar a Napoleão Bonaparte uma cópia do seu trabalho Méchanique céleste (A Mecânica Celeste, 5 vols., 1799-1825), o matemático Laplace, quando questionado pelo imperador sobre o papel de Deus na criação, respondeu que "Je n'avais pas besoin de cette hypothèse-là", que ele não necessitara da hipótese da existência de Deus para edificar a sua teoria do sistema solar. Com isso, com tal declaração arrogante, que fez o gosto e deliciou Napoleão, aquele expoente maior da física do Iluminismo rompia definitivamente com os elos dos seus predecessores Galileu e Newton, que ainda ligaram o Todo-Poderoso à formação do cosmo e à sua preservação.
O agnosticismo e a humanização de Cristo
Um Cristo humano
Se, no século XVIII, a Revolução de 1789 e a moderna ciência francesa davam início ao banimento de Deus, na Alemanha a pregação pelo afastamento do Todo-Poderoso das coisas do mundo se fez pela verve da filosofia e, pasme-se, pela própria teologia. Kant, com a sua doutrina agnóstica, que afastou as coisas da fé de qualquer provável entendimento racional (fé e razão atuam em esferas distintas, inconciliáveis), abriu caminho