Alfabetização
– Cristina, sirva-se primeiro.
– Obrigada.
Peguei um pãozinho, me passaram a manteiga – aquelas de tablete, pois não existia margarina de mesa – e fiz o que sempre fiz, peguei uma lasca e coloquei no prato.
Horror! Dezesseis olhos arregalados calam o ambiente. A mãe chocada levanta, leva a manteigueira para a cozinha. Depois de alguns momentos de tensão e expectativa, ela volta da cozinha com a manteigueira na sua forma original: retangular, cirurgicamente consertada.
Toda vez que se fala de cultura, principalmente empresarial, eu me lembro da manteiga. Tem famílias onde a cultura impõe a forma de se servir da manteiga e do queijo. E normalmente são antagônicas de uma para outra. Qual é a importância disso? De uma coisa tão secundária? De se tirar lasca ou acariciar a manteiga?
A importância é as pessoas terem tendência a discriminar a partir do detalhe. A maneira de falar, andar, vestir, se servir. O preconceito é fruto da rigidez de idéias, de que o nosso jeito é o jeito certo, que nossa cor é a cor certa e que nosso sotaque é o sem sotaque.
Nas relações sociais de menor vínculo, as diferenças que mais são usadas para o exercício da auto-afirmação e conseqüente discriminação são, evidentemente, as aparentes: raça, cor, trejeitos e características físicas não comuns. Com a convivência, as diferenças aparentes passam a ser secundárias e despontam as mais sérias, que impedem o convívio e são causa de tantos divórcios e crises familiares: a salsinha, a cebola na comida, o palito de dente, o chinelo, o mau-gosto da roupa e do presente de aniversário.
Mas, é melhor voltar ao tema diversidade antes que vocês já comecem a se irritar ao lembrar desses sérios problemas caseiros.
Caros colegas, a diversidade é o segredo da existência. É a diversidade que perpetua a vida