ALEMANHA DIVIDIDA
Aumento do fluxo de refugiados na Europa vira tema também em vilarejos, como Tröglitz, no leste alemão. Cidade, onde prefeito renunciou por ameaça de neonazistas, é retrato extremo de debate presente em todo o país.
A forte tempestade castigava sem piedade a pequena Tröglitz, com suas fileiras de edifícios de cor bege e verde-claro, muitos recentemente pintados, derrubando latões de lixo, espalhando sacos plásticos e sujeira pelas calçadas das ruas estreitas. A ventania despenteava um senhor de idade parado em frente ao quadro de avisos da cidade, no leste da Alemanha.
Com o olhar franzido, ele lia um anúncio desbotado sobre um serviço de cabeleireiros a domicílio. "Isso é novidade", observou. "De qualquer jeito, as pessoas teriam que se arrumar, não?", questionou, dando de ombros, como se não conseguisse decidir se essa inconveniência é mais significativa do que o benefício de ter os cabelos cortados em casa.
Ele também não conseguia – ou não queria – opinar sobre a questão dos refugiados. Apenas balançou a cabeça, murmurou algo incompreensível e saiu em direção à escola local, adornada por um enorme mural da era comunista: um grupo de estudantes, portando livros, sobre a frase "ensinamos, aprendemos e lutamos pela paz".
Ultimamente, porém, a cidade de cerca de 2.700 habitantes não tem sido muito pacífica, desde que a prefeitura anunciou planos de abrigar cerca de 40 refugiados, de um total de 650 que deverão ser recebidos na região em 2015.
Com o acirramento da guerra civil no Iraque e na Síria, um número cada vez maior de refugiados é forçado a abandonar sua terra natal. Países europeus, incluindo a Alemanha, registram recordes de pedidos de asilo. E cidade como Tröglitz, onde a porcentagem de estrangeiros – inclusive europeus – não passa de 1%, foram, pela primeira vez, convocadas a acomodar mais gente.
Reunificação e trauma
Em pouco tempo, um movimento de protestos surgiu a partir da sede local do partido de extrema