alcida ramos
As crenças religiosas dos povos indígenas afirmam uma unidade indissolúvel entre o natural e o social, com influencias mútuas e conseqüências recíprocas. Muitas vezes aquilo que chamamos de sobrenatural não é mais do que uma característica especial do social e do natural, como, por exemplo, atribuir poderes extranaturais a certos animais, plantas ou outros elementos. Manter a ordem do mundo, com seus componentes naturais e sobrenaturais, é obrigação dos seres humanos. Para isso existem tabus práticas xamanísticas, ritos de purificação, regras sociais e éticas… A quebra de um tabu alimentar implica uma ação humana incorreta que pode pôr em perigo essa ordem, desencadeando a ira de seres que, embora não pertençam à sociedade humana, estão diretamente associados a ela e fazem parte de seu sistema de regras.
Uma das diferenças básicas entre a religião das sociedades igualitárias e a dos Estados-nações é que nas primeiras ela não está estruturada em “igrejas”, isto é, em aparato especializado, geralmente hierárquico, com aparentes autonomia institucional, que comanda o dogma, os direitos e deveres de seus afiliados. Ao contrário, nas sociedades indígenas a religião está tão intrinsecamente relacionada com as demais esferas da vida social que não só dispensa como provavelmente é incompatível com um corpo eclesiástico especializado.
Se um homem da etnia Sanumá planeja caçar, sendo xamã, na noite anterior ele se ocupa com cânticos religiosos que propiciarão a cooperação de espíritos no sentido de tornar a caça produtiva; se não for xamã, o mínimo que ele pode fazer é ungir de urucu a cabeça de seu cão para aumentar as possibilidades de sucesso na busca da caça.
Tradicionalmente, a religião de uma sociedade indígena é perfeitamente compatível com os valores individuais e coletivos nela vigentes.
Xamanismo
Parte das atribuições de uma xamã é realizar curas. A ele cabe fazer o diagnóstico e tomar providências para eliminar o mal