Alberto Caeiro

1481 palavras 6 páginas
Expressões • Português • 12.° ano

Textos Informativos Complementares

SEQUÊNCIA 1

A poesia de Alberto Caeiro
De todos os heterónimos, grandes e pequenos, ele é o mais radicalmente diferente do “próprio” Pessoa autor do Cancioneiro, e do homem Pessoa, o da biografia. Podemo-nos sentir repelidos por esta “poesia” que recusa todos os atributos habituais do género: o canto, a emoção, a inspiração, a elevação do espírito, o metro, a rima, os ornamentos as imagens. Nela não encontramos nem metáforas, nem metonímias, nem sinédoques, mas muitas tautologias: “As estrelas não são senão estrelas / Nem as flores senão flores… A borboleta é apenas borboleta / E a flor é apenas flor… Digo da pedra, “é uma pedra”, / Digo da planta, “é uma planta”, / Digo de mim, “sou eu”. Podemos ver provocação nesta simplicidade afetada. Mas é aí, nessa “prosa” dos seus versos, que melhor podemos apreender o que faz a essência do génio de Pessoa; é aí, na boca ou na pena de Caeiro, que ele nos traz verdadeiramente um arrepio novo. […]
Pessoa “ele mesmo”, nos seus poemas “esotéricos”, na Mensagem, nos seus ensaios sobre a iniciação, há de tentar sondar os limites da condição humana para o alto, na direção do “céu”.
Caeiro, esse, quer experimentar-lhe os alicerces, cá em baixo, na terra. […] Ele é ascese, luva de crina da razão, desmistificação das ideias recebidas sobre o mundo. A poesia, aqui, torna-se crítica da poesia, mas também da filosofia, da teologia, da moral, da política, da arte, da cultura. Ela leva a julgamento tudo aquilo que, na nossa vida, nos parece habitualmente mais humano: os sentimentos, as ideias, os valores, a beleza, a bondade. Que é que fica, quando a ironia do poeta arrumou e limpou deste modo a consciência? Tudo o que a palavra-“fétiche” de Caeiro designa, e que volta a cada instante: a natureza, qualidade de tudo o que pertence ao mundo sensível, visível, infra-humano. A Natureza, com maiúscula, o ser imanente que suporta e anima tudo o resto.
Mas

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