Ai que saudade da amélia
A canção “Ai que saudade da Amélia”, de 1942, dos compositores Mario Lago e Ataulfo Alves, tanto pode ter tom irônico, como pode referir-se aos valores machistas, levando em consideração o período histórico, momento que se iniciava movimentos de libertação feminina, que culminaram, posteriormente, nos grandes movimentos dos anos 60. Fazendo uma breve análise da letra da música, nota-se que a mesma retrata a história de um homem que já havia sido casado com uma mulher chamada Amélia, mas que por algum motivo — provavelmente falecimento, uma vez que não havia divórcio na época, e Amélia era perfeita demais para ser deixada — casa-se com outra mulher. Essa que passa a ocupar o lugar de Amélia “faz exigências”, “só pensa em luxo e riqueza”, e “não enxerga que seu marido é um pobre rapaz”, como refere-se o autor. Já Amélia, esta era resignada, não possuía nenhuma vaidade e, por isso, para o autor, era uma “mulher de verdade”.
Amélia é um mito da sociedade brasileira. Até hoje fala-se de uma mulher forte, que cuida do lar, dos filhos e marido como “uma Amélia”. O mito Amélia, portanto designa o mito da “mulher ideal” para um marido típico brasileiro e pobre. Uma mulher que não reclama, não sonha e não possui vaidade, seu único propósito é cuidar da casa e afagar seu marido com palavras dóceis quando ele se vê contrariado. Não pode exigir nada, não pode ter consciência e não deve pensar em luxos e riquezas, pois, estes adjetivos não são dignos de uma mulher. Somente Amélia “é que era mulher de verdade”. Esta imagem de mulher submissa, dona de casa, maternal, cujas únicas funções na sociedade são o bem estar dos filhos, do marido e os cuidados na administração da casa, já não estão mais tão presente na realidade do mundo moderno.
Hoje a mulher tem respeito, autonomia, liberdade, vem cada vez mais alcançando seu espaço no mercado de trabalho e independência financeira, conquistados através de muita luta e sofrimento, sem mencionar o direito