Ah, o amor.
Atordoada de sentimentos ela vivia. Atordoada por vozes que vagavam por sua mente conturbadoramente escura. Sozinha em casa chorava baixinho com medo até que as paredes a ouvissem. Soluçava entre os travesseiros e logo depois se levantava rapidamente para lavar o rosto e mais uma vez dizer "eu estou bem, obrigada". Ela falava que estava bem mais do que qualquer outra frase. Ela realmente queria estar bem...
Não podia negar que tinha amigos, bons amigos, mesmo que não no mundo concreto. Mas de que adiantava se viva a mercê da solidão? Cigarros e café tem sido sua companhia há dias, mas ninguém precisava saber disso. Ninguém precisava sabe o que pensava o que fazia ou o que sentia. Mas doía, ela sabia. E mesmo assim, suportava com um sorriso.
Fazia todos rirem do seu jeito meio bobo-desastrado de ser. Brincava, perturbava e ria com todos, mas a noite estava lá, embriagando-se de café e criando um câncer com a fumaça de seus cigarros.
Ela queria ser ouvida, consolada ou só que alguém ficasse ali, do ladinho dela, abraçando-a. Era uma boba, não se importava em admitir isso. Adorava o diminutivo, apesar de gostar do grande, do infinito. Mas 'coisinhas' lhe faziam bem. Um cafunezinho seguidos de beijinhos era o que ela precisava.
Talvez fosse uma adulta num corpo de uma adolescente. Ou uma criança num corpo adolescente. Ou até mesmo podia ser uma alma de outra época que vagava... Num corpo de adolescente. Então, num dia frio qualquer ela simplesmente decidiu sair. Sair e vagar novamente, sem rumo e sem parada. E ela saiu então, daquele corpo que não lhe pertencia.