Agua para elefantes
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prólogo
Queria dizer o que disse, e disse o que eu queria dizer...
O elefante é cem por cento fiel!
Theodor Seuss Geisel, Tonho choca o ovo, 1940
R estaram apenas três pessoas sob o toldo vermelho e branco da espelunca:
Grady, eu e o cozinheiro. Grady e eu nos sentamos a uma mesa de madeira muito antiga e gasta, cada um diante de um hambúrguer num prato de lata amassado. O cozinheiro estava atrás do balcão, raspando a grelha com uma espátula. Ele já tinha desligado a fritadeira havia algum tempo, mas o cheiro de gordura impregnava o ar.
O resto do pátio – que pouco tempo antes transbordava de gente – estaria vazio não fosse por um punhado de empregados e um pequeno grupo de homens aguardando para ir à tenda da dança do ventre. Eles lançavam olhares nervosos de um lado para outro, usavam chapéus enterrados na cabeça e tinham as mãos enfiadas nos bolsos. Não ficariam desapontados: em algum lugar lá no fundo da tenda Bárbara e seus encantos abundantes os esperavam.
Os moradores da cidade – os caipiras, como Tio Al os chamava – já tinham atravessado a tenda das jaulas e chegado à grande tenda, que pulsava ao som de uma música frenética. O volume com que a banda executava seu repertório era ensurdecedor, como de costume. Eu sabia o programa de cor – nesse exato momento, a última parte do Grande Desfile saía, e Lottie, a trapezista, começava a subir no seu trapézio, no picadeiro central.
Olhei fixamente para Grady, tentando entender o que ele estava falando. Ele deu uma olhada ao redor e então se aproximou.
– Além disso – disse Grady, me olhando nos olhos –, acho que você tem muito a perder neste momento. – E, para dar mais ênfase ao que dizia, levantou as sobrancelhas. Meu coração disparou.
Ouviu-se uma explosão de aplausos estrondosos na grande tenda e a banda emendou a valsa de Gounod. Voltei-me