agost
Descartes e Hobbes: A questão da subjetividade como ponto de encruzilhada
Edgard Vinícius Cacho Zanette*
RESUMO
Em Descartes, a ligação entre res cogitans e ser sujeito é complexa. A referência a res cogitans como significando os termos “sujet” ou “subiectum” não é tão clara como muitas vezes a tradição afirma que seja. A fórmula que se tornou clássica: ser consciente de algo é ser sujeito de algo, apesar de condizente com a metafísica cartesiana, ao buscarmos ligar os termos
“sujet” ou “subiectum” a esse significado, permanece complexa. Assim, as nossas esperanças em afirmações textuais cartesianas, tais como: minha filosofia é uma filosofia do sujeito ou da subjetividade, são frustradas e a questão permanece envolta em dificuldades. Considerando essas peculiaridades, faz-se necessário um mapeamento da noção cartesiana de subjetividade em suas várias significações possíveis. Um dos textos mais importantes acerca desta noção são as próprias críticas de Hobbes a Descartes, nas quais aparecem várias acusações sobre o uso que Descartes fez do termo pensamento, que se referiria a muitas coisas sem separar o ato de pensar do sujeito a partir do qual o ato emerge. Para Hobbes todos os filósofos, exceto
Descartes, distinguem o sujeito de suas faculdades e atos. A questão é determinar o porquê, para Descartes, desta equivalência entre a coisa mesma (res cogitans) e os seus diversos atos reflexivos, de modo que o sujeito dos atos e seus próprios atos possuam uma relação representacional sem que ocorra, contudo, uma dissolução ou um descolcamento do próprio sujeito do pensar. Tendo em vista estes problemas concernentes à metafísica cartesiana, este trabalho propõe mostrar que as críticas que Hobbes apresenta nas Terceiras Objeções e
Respostas à noção cartesiana de pensamento, antes que tematizar tão somente o próprio cogito, na verdade, também problematiza várias significações fundamentais à noção cartesiana de subjetividade para além das