Agora "até namorar" fica dificil
Psicologia do Trabalho I
Agora... até namorar fica difícil: uma história de lesões por esforços repetitivos
Professor: Carlos
Santa Cruz do Sul, junho de 2012
“Comecei a trabalhar na digitação e passei a sentir um incômodo no braço, principalmente no pulso. Inicialmente dava para aguentar. Eu achava que era assim mesmo. Chegava em casa descansava e desaparecia a dor. Na segunda – feira era pior, quanda havia mais cheques para compensar.
Depois veio a dor. Atacava os dedos, principalmente as pontas. Outros colegas sentiam a mesma coisa, embora a gente conversasse pouco, alguns passavam o dia de fones de ouvido. Com o tempo a gente vai ficando isolado, mesmo fora do trabalho. Parece que o ambiente de trabalho contamina a gente. Antes eu gostava de ouvir música, de ler, de me reunir com os colegas, ir ao cinema... Agora... até namorar fica difícil. Principalmente em relação a doença, a gente quase não fala. Quando surgiram os primeiros casos, todo mundo pensava que era invenção dos trabalhadores. Minha primeira cirurgia foi em 1986. Em março de 1985 procurei ortopedista do convênio que me indicou imobilização, antiflamatórios e depois fisioterapia, como a dor não melhorava infiltrei corticóide. O INPS não tinha nada de concreto, para me retirar da função de digitadora. Quando o outro braço começar a doer eu não podia mais trabalhar como digitadora. Começou outra luta: a de reconhecer a doença como profissional. As minhas dores continuavam. Em agosto de 1986 fiz uma segunda cirurgia e entrei como acidente de trabalho. Me cansei de fazer fisioterapia. Lá todos faziam o mesmo tratamento, independente da doença. Tanta fazia ser acidente, derrame cerebral. Foi horrível. A gente piorava apertando bolinhas com as mãos ( o que não era para nós ). Mesmo afastada, a dor atacava. Perdi a força nos braços. Entrei em pânico quando a palma da mão começou a afundar. O que eu queria mesmo era voltar a trabalhar,