Africa terra-mulher
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
(Alda Lara, Testamento)
Assim se apresenta aos meus olhos estrangeiros essa terra. Uma terra-virgem, terra-mulher do corpo e do cheiro sinuoso e forte, cujo magnetismo provoca paixão e sofrimento.
Ao chegarem, os primeiros europeus ficaram provavelmente encantados pela beleza negra e desconhecida da inviolada terra-mulher, ao ponto que o desejo dela tornou-se mais e mais forte.
Virgem imolada sobre o altar do desejo branco disputado entre atração e repulsa que fez do seu corpo o lugar de interesses mesquinhos.
Escravatura, colonialismo, exploração física e economica: Africa, mulher violada e umilhada por muitas mãos que quiseram lavar com a sagrada água de seus corpos a negritude dela por meio da violência cega das armas e do silêncio.
A virgem negra vestida de renda e diamantes tornou-se puta vestida de lixo e de sangre.
Africa é terra de contradições onde à esquizofrenia das guerras de libertação seguiu a esquizofrenia das guerras civis, durante as quais os homens mataram seus irmãos por ordem de alguém mais poderoso. É terra de guerras esquecidas, escondidas, a terra onde o genocídio ja não é genocídio, porque se fosse os governos deveriam intervir para o problema ser resolvido, assim acabando o tráfico de armas que enriquece a nossa Europa e o assim chamado “primeiro mundo”.
Africa é um país infeliz onde de três em três minutos uma crinaça morre de fome ou de SIDA com o mundo todo olhando sem saber exactamente o que fazer: chorar? Dar ajuda? Dar apoio às inumeráveis fundações existentes?
Africa é um país incômodo porque é daí que chegam às costas brancas os imigrantes. E mais uma vez ninguém parece entender que a razão por eles chegarem tão numerosos é a tentativa de ganhar dereito ao accesso dàquelas riquezas que o resto do mundo fez com que elas se-tournassem inabordáveis: o