Adverso
Juliano F. Martins
“Não julgueis para que não sejais julgados.” Mat. 7:1
Num fim de semana, num momento qualquer da vida... podem vir à tona todos os seus conflitos. E aí? Talvez, num desses momentos de solidão, de reflexão; quando o embalo da música cessar e o barulho do coração, detonado pela inquietude da razão, ecoar mais alto que a voz dos sentimentos... quando se enxergar apenas dois caminhos... O barquinho da vida nos estabelecer a incógnita... E aí!!?
“A vida é tão bela que chega a dar medo.” O Adolescente - Mário Quintana
I – O Pierrot
Paredes brancas emassadas; manchas de arranhões e sujeiras a desmentir sua impressão de recém concluída; piso marcado pelos pés dos que entraram e saíram durante a semana. Lá estava eu mais uma vez atrás do computador e de uma mesa cheia de papéis, com olhar perscrutador direcionado à porta de alumínio em grandes vidros cobertos por insufilme esperando no vácuo alguma pessoa mais para atender, ou quem sabe, um amigo qualquer para me fazer companhia. As aves chatas cantavam ao pôr-se o sol e a cigarra com seu tradicional cortejo barulhento de acasalamento se despedia do dia. Os carros à margem da avenida iam diminuindo em número mas não se detinham. E ali, ao lado em meu trabalho, o expediente findava mais uma vez e minha vida se tornava uma solidão insuportável... Era a imutável rotina da sexta-feira. Naquele horário, quando bocas se calavam, telefone silenciava e portas de comércios se fechavam; eu me sentia isolado do planeta; como se todos morressem ao mesmo tempo. Poderia até ser bom algo assim: uma estação de paz em meio à turbulência da semana de trabalho - cessando o entra e sai gente daquele escritório me trazendo problemas do arco da velha e o telefone tocando sufocando-me com outros mil - mas assim, de uma hora pra outra eu ficava no vazio. É verdade que sou um dos raros que gostam de seu trabalho. Sinto-me super realizado, ao conversar, compartilhar problemas, conhecer pessoas de todos os