Adorno
A INDÚSTRIA CULTURAL O ILUMINISMO COMO MISTIFICAÇÃO DE MASSAS
Max Horkheimer e Theodor W. Adorno j A tese sociológica de que a perda de apoio na religião objetiva, a dissolução dos últimos resíduos pré-capitalistas, a diferenciação técnica e social e a extrema especialização, deram lugar a um caos cultural, é cotidianamente desmentida pelos fatos. A civilização atual a tudo confere um ar de semelhança, j Filmes, rádio e semanários constituem um sistema. Cada setor ' se harmoniza em si e todos entre si. As manifestações estéticas, mesmo a dos antagonistas políticos, celebram da mesma forma o elogio do ritmo do aço. As sedes decorativas das administrações e das amostras industriais são pouco diferentes nos países autoritários e nos outros. Os palácios colossais que surgem de tôdas as partes representam a pura racionalidade sem sentido dos grandes cartéis internacionais a que já tendia a livre iniciativa desenfreada, que tem, no entanto, os seus monumentos nos sombrios edifícios circundantes — de moradia ou de negócios — das cidades desoladas. Por sua vez, as casas mais velhas em tôrno ao centro de cimento armado têm o aspecto de slums (favelas), enquanto os novos bangalôs às. margens das cidades cantam (como.as frágeis construções das feiras..internacionais) louvores ao progresso técnico, convidando a liquidá-las, após um rápido uso, como latas de conserva. 'Mas os. projetos urbanísticos que deveriam perpetuar, em pequenas habitações higiênicas, o indivíduo como ser independente, o submetem ainda mais radicalmente à sua antítese; o poder, total
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do capital. Como os habitantes afluem aos centros em busca de trabalho e de diversão, como produtores e consumidores, as unidades de construção se cristalizam sem solução de continuidade em complexos bem organizados. A unidade visível de macrocosmo e de microcosmo mostra aos homens o esquema da sua civilização: a falsa identidade do universal e do particular. | Tôda a civilização de massa em sistema de