Admitindo gerundio
Admitindo o Gerúndio
“(...)Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento / No sol de quase dezembro, eu vou” Caetano Veloso. Alegria, Alegria
Escritores, poetas e compositores expressaram-se com primor utilizando uma das formas nominais do verbo, o gerúndio. Em Alegria, Alegria, por exemplo, Caetano Veloso usa o aspecto inacabado do gerúndio para exprimir a idéia de progressão indefinida de um processo (o caminhar). O modo (contra o vento, sem lenço sem documento) da ação de caminhar, expressa pelo gerúndio, e o espaço temporal, ocupado pela ação em seu desenvolvimento (no sol de quase dezembro) são adjuntos. O gerúndio pode desempenhar função de advérbio, adjunto adverbial e adjetivo, ao lado do seu caráter verbal. Na língua padrão do Brasil, conservou-se a construção com o sufixo -ndo e com um verbo auxiliar em qualquer de seus tempos. Em Portugal, substituíram-no por uma perífrase (duas formas verbais juntas) com o infinitivo. Eles dizem “Estou a escrever“ em vez de Estou escrevendo.
Gonzaguinha, em Explode Coração, emprega o gerúndio com um substantivo antecedente para expressar a qualificação dinâmica desse substantivo ligada a uma atividade de caráter verbal (o sol desvirginando a madrugada; a dor dessa manhã nascendo, rompendo, rasgando . Aproxima o gerúndio das funções desempenhadas pelo adjetivo: Eu, chorando [= eu chorosa]; sofrendo [= sofredora].
Leia: “E que esta vida entre assim/ Como se fosse o sol/ Desvirginando a madrugada/Quero sentir a dor dessa manhã/Nascendo, rompendo, rasgando (...) Eu, chorando, sofrendo(...) Feito louca, alucinada e criança/ Não dá mais pra segurar/ Explode coração"
O gerúndio pode equivaler não somente a oração adverbial, mas ainda a oração adjetiva: “Uma moça cosendo roupa [= que cosia roupa]/Com a linha do Equador/ E a voz da Santa dizendo[= que dizia]/ O que é que tô fazendo/ Cá em cima desse andor“ (Chico César).
Uma das