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AS evidências da vida cotidiana dão-nos a sensação de que vivemos em um período de intensa turbulência. no trabalho, em que terceirizações, reestruturações, fusões e aquisições parecem nutrir um estado de permanente caos.
Experimentamos pessoalmente as consequências de muitas mudanças e, quando não as experimentamos pessoalmente, somos informados sobre elas. o resultado é a construção de uma permanente sensação de que nada está parado, de que tudo se movimenta, de que há uma tendência intrínseca de modificações em todas as coisas existentes; em suma, uma sensação de mudança contínua. No contexto da gestão empresarial, o discurso de mu- dança talvez seja um grande exagero, ou uma ferramenta retórica, que ajuda a acentuar a sensação de turbulência e a vender “produtos” (talvez placebos) para tratá-la. Em grande parte dos textos de gestão, sejam eles de executivos, consultores, jornalistas ou acadêmicos, existe uma ideia advertência comum: ou as empresas mudam, ou desaparecem; ou se lançam em uma onda de infindáveis transformações, ou serão ultrapassadas pelos concorrentes.
Tudo o que é sólido desmancha no ar
Segundo Christopher Grey, da universidade de Cambridge, em artigo publicado recentemente na revista Tamara, os excessos da retórica da mudança estão nos fazendo reféns de uma síndrome muito particular: o fetiche da mudança. o pesquisador argumenta que tal discurso contém inconsistências lógicas e factuais, supervaloriza a necessidade da mudança e dissemina a ilusão de que é possível controlar o curso, a intensidade e a direção da mudança. o fetiche da mudança possui, na qualificação de grey, três elementos principais. Primeiro, parte de uma caracterização dos atuais índices de mudança como não tendo precedentes históricos: as mudanças que ocorrem hoje seriam muito mais profundas, em qualidade e quantidade, do que as que ocorreram no passado. Segundo, a mudança é atribuída a fatores como globalização e tecnologia, e não ao