Adaptado

1957
Salvador, Bahia, Brasil

Subitamente, abre-se a porta da igreja e entram o
Delegado, o Secretario, o Guarda, o Padre e o Sacristão.

SECRETARIO
(Aponta para Zé-do-Burro)
É esse aí.
(Avança para Zé-do-Burro, seguido do Delegado e do Guarda).

GUARDA
(Como que se estive se desculpando)
Eu já cansei de pedir pra ele sair daqui, seu Delegado, não adianta, esse cabra é teimoso...

DELEGADO
(Faz o Guarda se calar, colocando o dedo indicador nos lábios dele)
Seus documentos.

ZÉ
(Estranha)
Documentos?

DELEGADO
Documentos tipo: Carteira de identidade.

ZÉ
Tenho não, senhor...

DELEGADO
Outra carteira, outro documento qualquer.

ZÉ
Moço, eu vim só pagar minha promessa. Eu só amigo da Santa, não precisava trazer a identidade.

DELEGADO
(Sorri irônico)
Pagar uma promessa... pensa que somos burros.

SECRETARIO
Não demora não, senão ele vai começa a conta a história do burro...

DELEGADO
Ele vai contar essas histórias todas, mas na Delegacia. Vamos, acompanhe-me. ZÉ
(Seu olhar vai do Delegado ao Secretario e ao Guarda, sem entender o que se passa)
Acompanhar o senhor... pra quê?

DELEGADO
Mais tarde você verá. Sou delegado deste distrito. Obedeça.

ZÉ
Não posso. Não posso sair daqui.

DELEGADO
Não pode por quê?

GUARDA
Promessa, seu Delegado. Ele é crente.

DELEGADO
O Padre disse que ele ameaçou invadir a igreja. Pediu garantias.

SECRETARIO
Eu mesmo ouvi ele dizer que ia jogar uma bomba. Todo mundo aqui é testemunha!

DELEGADO
Uma bomba, hem... Vamos à Delegacia... quero que o senhor me explique isso tudo direitinho.

SECRETARIO
Vamos.
(Segura Zé-do-Burro por um braço mas ele foge )
Qualé? Vai reagir?

GUARDA
(Apaziguador)
Acho melhor o senhor obedecer senão ele te taca a peixeira...

DELEGADO
Se ele reagir, pior para ele. Não estou disposto a perder tempo e conheço esses tipos de rebeldia. Esses ai só entrego em pedaços.

ROSA
Não!

ZÉ
Os senhores devem estar enganados. Devem estar me confundindo com algum israelense. Sou um homem de coração puro, vim só pagar uma