ABUSO SEXUAL E VULNERABILIDADE DE CRIANÇAS
O impacto de tais experiências necessita de intervenções que ultrapassem o âmbito familiar e os modelos de grupo familiar instituídos. Os vínculos afetivos, no contexto da família, se enfraquecem quando está em jogo a relação conjugal, razão pela qual os relatos de abuso e violência são conhecidos tardiamente. Intervir para transformar essa realidade que atinge milhares de crianças e adolescentes é tarefa para ser compartilhada com diferentes segmentos da sociedade civil organizada, alimentadas por políticas sociais públicas que assegurem o reconhecimento da população infanto-juvenil como prioridade absoluta, tal como preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente.
. Para que a análise da relação entre violência e criança ultrapasse o limite de sua naturalização, é necessária a construção de um conhecimento que contemple a articulação as dimensões macro e micro social.
Nesta perspectiva, a violência intrafamiliar resulta, em parte, da violência social que se manifesta no interior da sociedade, expondo na intimidade, questões que afetam diferentes segmentos de uma comunidade e são ocultadas como problemas sociais. O surgimento da violência no interior da família transfere o problema e a responsabilidade para esse grupo, desenvolvendo um campo favorável para a construção de álibis de forma que as pessoas, integrantes da sociedade civil, possam se eximir de se debruçarem sobre essa questão. A violência contra crianças e adolescentes, até então tratada na esfera privada, adquire maior visibilidade, na medida em que os limites entre o público e o privado ganham melhor definição e precisão, ampliando seus significados. Para Arendt (1989) a esfera pública é o único espaço capaz de assegurar o debate de temas de interesse coletivo, em um ambiente plural marcado por muitas vozes e pela presença dos outros - desprivatizando a realidade.
A violência e o abuso sexual quando