absoluto menos
Que significa “inferno”, até como temática? A palavra, em si mesma, já se sabe, constitui uma espécie de localização geográfica: algo assim como “um lugar inferior”. Pertenceria a um tipo
(de classificação) parecido com o de alguns termos, tais como o de “mediterrâneo”, ou o de “países baixos”. Mas não é disso que o autor quer falar. Acompanhemos a seguir a original interpretação de Segundo para este dogma da fé cristã.
Ao falar aqui de “inferno” não estamos falando de lugar algum (material ou espiritual). Trata-se de uma metáfora, que serve para designar um destino inferior que, supõe-se, deve chegar ao ser humano depois de terminar esta vida, se nela teve uma conduta moralmente má. Ou, se preferimos, moralmente inferior a certo standard. Tanto é assim que tudo o que se pode querer saber sobre tal destino procede não de um puro dado empírico, nem de uma especulação metafísica, mas do testemunho da auto-revelação de
Deus.1 Portanto, de uma apropriada exegese, tradicional e crítica ao mesmo tempo, da Bíblia, na qual aquela se depositou por escrito.
Ora, como esse “destino inferior” (= infernal) realiza-se depois da morte, isto é, fora das coordenadas que definem nossa existência “humana”, próprias de nossa imaginação espaço-temporal, segue-se algo que, por mais difícil que seja, deve, necessariamente, fazer parte de nossa linguagem icônica. Refiro-me a que todos os elementos tirados de nossa experiência, que poderíamos usar para rechear imaginativamente esse conceito de um “destino inferior”, devem ser outras tantas metáforas. Em outros termos, se falamos como a Bíblia, de “fogo” ou mesmo — e mais sobriamente — de “afastamento” em relação a Deus, não nos estamos referindo a um fogo real ou a uma separação espacial perceptível ou mensurável.
Tudo o que acabo de dizer não tem como finalidade — como, talvez, um leitor apressado poderia
pensar — descartar o inferno, por não ser este