Aborto
A VIDA HUMANA
O aborto é um caso típico onde as posições quanto ao fundamento ético são inconciliáveis. Para alguns trata-se do direito à vida, para outros é evidente que envolve o direito da mulher ao seu próprio corpo e há, ainda, os que estão convencidos de que a malformação grave deve ser eliminada a qualquer preço porque a sociedade tem o direito de ser constituída por indivíduos capazes. As pessoas dizem com muita frequência que a vida é sagrada, porém quase nunca em sentido exato. Não pretendem dizer, como as palavras parecem implicar, que a vida em si é sagrada. Se assim fosse, matar uma galinha ou arrancar uma couve seria tão horrível para essas pessoas como matar um ser humano. Quando alguém diz que a vida é sagrada está a referir-se à vida humana. É questionado no livro por que motivo deverá a vida humana possuir um valor tão especial?
Ao discutir a doutrina da santidade da vida humana o autor não entende o termo "santidade" num sentido especificamente religioso. Ele encara a doutrina da santidade da vida humana simplesmente como uma forma de dizer que a vida humana possui um valor especial, um valor bastante distinto do valor da vida dos restantes dos seres vivos.
Essa possibilidade de que a vida humana possui um valor único está profundamente enraizada na nossa sociedade e encontra-se consagrada na lei. No livro de Peter Singer ele recomenda um livro notável: The Long Dying of Baby Andrew, de Robert e Peggy Stinson. Em dezembro de 1976, Peggy Stinson, professora no estado da Pensilvânia, nos EUA, estava grávida de 24 semanas quando entrou em trabalho de parto prematuro. O bebê, a quem Robert e Peggy deram o nome de "Andrew", era praticamente inviável. Apesar da vontade expressa de ambos os pais de não quererem "heroímos", os médicos que assistiram o bebê usaram toda a tecnologia moderna para o manter vivo durante quase seis meses. Andrew tinha crises periódicas. Perto do final desse período tornou-se claro que, se sobrevivesse, ficaria