Abordagem naturalista
Introdução
As tentativas de se entender a consciência humana como sendo um fenómeno integrante da natureza têm, ao longo da história do pensamento, conduzido a uma série de dificuldades. A maior delas possivelmente seria a dificuldade de se oferecer uma explicação causal, explicitando as condições necessárias e suficientes para que um sistema físico apresente o fenómeno consciência tal como este se apresenta para o ser humano.
Uma dificuldade simetricamente oposta é o risco de trivialização do conceito de consciência, decorrente da adopção de uma suposição panpsiquista (ou seja, que todo processo natural teria uma dimensão consciente). Para se evitar o panpsiquismo, é preciso estabelecer recortes na natureza física, limitando a atribuição de consciência aos sistemas vivos, ou a sistemas vivos que satisfaçam a certas condições (por exemplo, domínio de uma linguagem simbólica). Os critérios para se estabelecer tal recorte são muitas vezes obscuros, ou mesmo preconceituosos, como quando se supõe a priori que apenas os seres capazes de se manifestar explicitamente sobre seus processos conscientes seriam conscientes.
Uma outra dificuldade consiste em delimitar as semelhanças e diferenças entre a consciência animal e a humana. Enquanto os mecanismos neurobiológicos que suportam as actividades conscientes parecem ser muito semelhantes em várias espécies, especialmente entre os mamíferos, o modo como estes mecanismos se arranjam e interagem com o ambiente, no ser humano, parece ter características únicas, decorrentes de uma maior especialização dos mecanismos dedicados ao processamento de aspectos perpetuais, emocionais e motores, e da combinação dinâmica entre tais mecanismos. A emergência da linguagem como meio de comunicação interindividual, em sua forma típica da espécie humana, seria então um elemento diferenciador importante. Nesta perspectiva, embora não se considere a existência de consciência como um privilégio da espécie humana, pode-se