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Leisa Brasil • MAR 2013 • vol. 10 n. 1
Ciência e Poder
nos sistemas agroalimentares Editorial
B
arcos singravam os mares muito antes de Arquimedes bradar o seu famoso Eureka, anunciando o princípio da flutuação sobre a água. Da mesma forma, as agriculturas não precisaram esperar milhares de anos pelo advento das ciências agrárias para se desenvolver criativa e autonomamente em diferentes regiões do planeta. Duas obviedades históricas que aqui nos servem para ilustrar uma contradição da racionalidade científica dominante.
Como invenção cultural, a ciência moderna surgiu com a promessa de iluminar novos caminhos do conhecimento e pavimentar o progresso das civilizações. Paradoxalmente, à medida que evoluiu e se afirmou institucionalmente, essa mesma ciência projetou novas sombras sobre a realidade ao negar a validade de saberes produzidos à revelia das regras e conceitos por ela estipulados. Por meio desse mecanismo, as instituições científicas procuram reservar para si a exclusividade na produção do conhecimento válido, assumindo assim um lugar privilegiado na estrutura de poder nas sociedades contemporâneas.
Uma das formas mais insidiosas de exercício desse poder é a imposição de trajetórias para a inovação científico-tecnológica.
Na área da agricultura e da alimentação, a lógica dominante lança mão da química, da motomecanização, da biotecnologia e da nanotecnologia para viabilizar crescentes níveis de artificialização e de padronização dos processos de produção, transformação, distribuição e consumo alimentar. Além de gerar impactos negativos cada vez mais profundos e difusos sobre o meio ambiente e a sociedade, a imposição da racionalidade industrial sobre os sistemas agroalimentares acaba por bloquear e desacreditar trajetórias alternativas para o avanço das ciências agrárias e o desenvolvimento tecnológico. Em vez de pregar a padronização massiva de tecnologias, os caminhos