Aba A S
Nós os avistamos da praia. Era um dia como qualquer outro; o aracê nos mostrou que um dia novo começara; o clima estava sereno e quente, como era comum em nossa terra. Como amávamos aquilo. Nossa mata, nossos pássaros cantando e voando livres pelo céu.. o frescor da brisa do mar, o ar em nossos pulmões, a liberdade. (...)
Lembro-me como era feliz; mas fazia parte do destino, do nosso destino, como poderiamos evitá-lo?
Os abaités chegaram à nossa praia no início da tarde, chegaram para tirar de nós o que pertenceu a nossos ancestrais, o que era nosso por direito.
Lembro-me que as mulheres estávam à margem da praia colhendo frutos e as crianças corriam pela areia, e haviam alguns auás pescando o que viria a ser nosso alimento, quando avistamos algo que parecia um ubá gigante, um tipo de embarcação que carregava muitas pessoas. Então eles nos avistaram, e ouvi um grito de algo que só poderia ser entendido por eles.
Olhavam-nos com estranheza e encantamento; pronunciavam sua língua e elevavam seus olhares para nossa terra. Ofereceram-nos seus pertences para que nós os mostrássemos nossas riquezas. Suas vestes, suas falas, seus olhares.. era algo jamais visto em nossa terra, o que encantou alguns de nossos irmãos, tolos que se renderam aos caris e os mostraram tudo que tínhamos.
Eles queriam tirar de nós o que somente nos pertencia. Nossas crenças, nossos costumes, as nossas raízes e riquezas. Eles queriam a nossa terra.
Ensinaram-nos sua crença, obrigaram-nos a seguir o deus deles. Nossas matas foram exploradas a procura de riquezas. Eu podia sentir a mãe terra chorar, podia ver abaçaís por trás de cada homem branco.
Ao longo do tempo, tudo que tínhamos foi devastado pela ganância daqueles homens. Tomaram posse de nossas riquezas, fizeram de nós índios o que queriam,