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O primeiro motivo é que Engels demonstra que é possível escrever com simplicidade e paixão sem perder o rigor científico. A fluência quase jornalística e a qualidade literária de seu texto são preservadas na edição da Boitempo pela competente tradução de Bernhard A. Schumann, feita diretamente do alemão.
O segundo motivo é que Engels antecipa, em sua investigação, a ciência social unitária e dialética que ele e Marx iriam desenvolver nas décadas seguintes. Preocupado em iluminar as diferentes faces de seu objeto de estudo, Engels derruba as fronteiras artificiais das disciplinas acadêmicas, incursionando nos territórios atuais da economia e da sociologia, da ciência política e da antropologia cultural, da psicologia coletiva e da medicina social. Atento, além disso, à realidade contraditória e em movimento da sociedade inglesa, exercita aquela “ciência dialético-histórica da tendência”, como a chamaria o filósofo alemão Ernst Bloch, típica do marxismo, ou seja, “a ciência da realidade mais a possibilidade nela contida, visando à ação”.
Descrevendo minuciosamente as condições de trabalho e de vida do proletariado inglês, relacionando sua emergência e expansão com as do capitalismo e da primeira revolução industrial, captando não apenas o lado sofredor da nova classe social, mas também seu potencial revolucionário, Engels realizou um trabalho pioneiro, que, apesar de pouco conhecido, foi crucial para sua transformação e de Marx em marxistas. A esclarecedora apresentação de José Paulo Netto, que abre a edição da Boitempo, fornece elementos históricos e biográficos para a compreensão desse significado da obra, o qual representa o terceiro motivo pelo qual ela merece ser estudada.
É verdade que Marx já havia inscrito o proletariado em seu horizonte