885379 O Mito
1711 palavras
7 páginas
O mitoA literatura conhece uma infinidade de expressões mitológicas, colhidas entre as mais diversas culturas. As histórias que elas narram vão desde relatos das origens do cosmos (cosmogonias) até sua suposta destruição. A linguagem mitológica procura dar explicações, pouco razoáveis para o homem da ciência e da técnica, para todas as coisas: criação do mundo, situações-limite da vida humana (como a dor, o sofrimento, a morte...), sentimentos (amor, paixão, ódio...) questões religiosas, etc... Postula-se, hoje, pela legitimidade do mito, enquanto possuidor de certa racionalidade. O que habitualmente era tido como fantasia ou invenção carente de sentido, hoje encontra seu lugar de intérprete legítimo de épocas e povos. Muito colaborou para essa nova visão os estudos da antropologia cultural. O mito deixa transparecer a vida de uma comunidade. Ele reflete, sem a mediação do pensamento elaborado, o imediato da realidade. Talvez aqui resida a grande barreira para a sua decodificação. Ele carrega uma mensagem enviesada, não dita explicitamente, mas através de códigos e cifras. Fala bonito. Fala ilustrado, poetizado, dando vida ao imaginário, fazendo com que o real delire e o ideal ganhe vida. Compreender os mitos equivale a captar as manifestações do espírito humano, da cultura, do impulso de transcendência e não tomá-los como patologia ou coisa de criança. Mais do que explicá-los, o que jamais daremos conta de fazer, é preciso experimentar neles a sua gratuidade e espontaneidade. Aliás, a tentativa de explicar o mito já descaracteriza sua identidade. O discurso passaria de mitológico para filosófico ou científico. O mito é livre o bastante para não se deixar aprisionar ao discurso ou aos conceitos e subsiste ao “bisturi” da racionalidade. O caminho de acesso a ele passa pela emoção e pelo pensamento furtivo, como chama nossa atenção Everaldo rocha: “O mito não possui sólidos alicerces de definições. Não possui verdade eterna e é como uma construção que não