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6727 palavras
27 páginas
A SEMIOSE DA FANTASIA LITERÁRIAJULIO JEHA*
RESUMO
A literatura refere-se tanto ao que existe na fisicalidade quanto ao que existe apenas como um construto da mente. Isso é possível por causa da natureza relacional do signo e, portanto, da linguagem. A fantasia é vista pelas teorias literárias em geral como uma manifestação artística inferior. No entanto, a natureza epistemológica e ontológica do signo literário implica que ambas as tendências em direção ao real e à fantasia são igualmente válidas, pois uma depende da outra para existir.
PALAVRAS-CHAVE: Semiose, fantasia na literatura, epistemologia, ontologia.
Ao contrário das ciências, que tentam descrever um mundo objetivo o mais próximo possível do ambiente físico, as artes podem negligenciar essa tentativa de correspondência unívoca. As literaturas de cunho realista, é certo, buscam aproximar-se ao máximo de uma descrição fiel do universo “lá fora”. As literaturas que enfatizam a fantasia, ao contrário, não se deixam tolher por supostas correspondências com o mundo experimentado. Elas fazem da criação de seres que dependem totalmente da cognição o traço distintivo de sua natureza, em oposição às literaturas ditas realistas, que tentam trabalhar, por definição, com seres objetivos que poderiam corresponder a seres físicos.1 A possibilidade de a literatura referir-se ao que existe tanto apenas ficticiamente quanto objetiva e fisicamente se deve ao caráter relacional da linguagem como atividade sígnica.
Ao ser corporificada em um código, oral ou escrito, e desviada de sua função original, a linguagem se presta de base para um novo sistema modelador, a literatura. A literatura funciona como um sistema modelador ao retratar mundos possíveis (ou impossíveis), abstraídos do ambiente
* Professor Adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG .
físico maior no qual ela existe. E ela é um modelo terciário porquanto se origina como objetividade em um Umwelt, toma forma no Innenwelt especificamente humano (a