55 Democracia Corrompida
A Indiferença Política das Pessoas
A democracia liberal multipartidária “representa” uma visão muito precisa da vida social na qual a política se organiza em partidos que competem por meio de eleições para exercer o controle sobre o estado legislativo e o aparato executivo etc. Deve-se sempre estar ciente de que essa “moldura transcendental” nunca é neutra – ela privilegia certos valores e práticas.
Essa não neutralidade torna-se palpável nos momentos de crise ou indiferença, quando experimentamos a incapacidade do sistema democrático de captar o que as pessoas de fato querem ou pensam – essa incapacidade foi demonstrada por fenômenos anômalos como as eleições britânicas de 2005: apesar da crescente impopularidade de Tony Blair (ele era constantemente eleito a pessoa mais impopular do Reino Unido), não houve meio de esse descontentamento encontrar uma expressão política efetiva.
Havia algo de obviamente problemático nesse caso – não que as pessoas “não soubessem o que queriam”, mas, antes, a resignação cínica as impediu de agir de acordo com essa vontade, de modo que o resultado foi o estranho desencontro entre o que as pessoas pensavam e como elas agiram (votaram).
Já Platão, em sua crítica à democracia, mostrava-se totalmente ciente desse segundo tipo de corrupção; e essa crítica também é claramente discernível no favorecimento jacobino da Virtude: na democracia no sentido de representação e negociação da pluralidade de interesses privados, não há espaço para a Virtude. É por esse motivo que, na revolução proletária, a democracia tem de ser substituída pela ditadura do proletariado.
Eleições não são um Meio de Verdade
Não há razão para desprezar as eleições democráticas; deve-se apenas insistir que não existe uma indicação per se da Verdade – como regra, elas tendem a refletir a doxa predominante determinada pela ideologia hegemônica.
Tomemos um exemplo que certamente não é problemático: a França em 1940. Até Jacque Duclos, o segundo