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Vol. 2, n.1, pp. 72-83, 2014
ISSN 2183-0886
PÓS-COLONIALISMO, RESISTÊNCIA E RELIGIOSIDADE
NAS LITERATURAS AFRICANAS: algumas perspectivas
Silvio Ruiz Paradiso
Universidade Estadual de Londrina, Brasil
Resumo: Este artigo propõe questionar e problematizar as manifestações da religião e das religiosidades nas literaturas africanas pós-coloniais, tanto no âmbito do colonizador como do colonizado, através de uma estética própria, que apresente as ambivalências, lutas simbólicas e o pensamento político do mundo [pós] colonial. Desta forma, este texto pautou-se a partir da ideia marxista de luta de classe, levado, entretanto, às esferas do sagrado, em que as religiosidades descritas no texto africano não sejam privilegiadas sob uma análise puramente teológica, mas que abordem os aparatos e a fenomenologia religiosa como uma estratégia de criação literária ou estratégia estética própria do pós-colonialismo, que vê no discurso a luta política inerente do ambiente colonial.
Palavras-chave: pós-colonialismo; religião; literatura africana.
1. Considerações iniciais
Desde cedo, a frase de Karl Heinrich Marx (1818 -1883), “a religião é ópio do povo” me incomoda. Apesar do sentido da frase já estar presente em textos anteriores à sua
Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (1844) (Zur Kritik der Hegelschen
Rechtsphilosophie), ficou conhecida e disseminada através de deste. Todavia, Herder,
Feuerbach, Bauer e Kant já esboçavam a frase, em contextos parecidos, relacionando a
Religião, Estado e Política.
Marx como Engels observavam a religião como uma trincheira de alienação e desserviço a luta de classes. O conceito de ópio, no contexto de sua fala, estava relacionado ao torpor maléfico da religião, como “felicidade ilusória dos homens”, impedindo o homem de ver sua real condição, de modo que este homem “pense, atue e configure a sua realidade como homem que perdeu as ilusões e reconquistou a razão,