COMUNIDADES “GUARDA-ROUPA” Apesar da sensação de medo, impelir ao recolhimento e adoção de inúmeras medidas de defesa, ainda pesa sobre todos o desejo de sentir-se parte de algo, acolhido, em comunhão. “O medo do desconhecido – no qual mesmo que subliminarmente estamos envolvidos – busca desesperadamente algum tipo de alívio” (BAUMAN, 2009, p. 37). Daí a crescente demanda pelo que poderíamos chamar de ‘comunidades guarda-roupa’ – invocadas a existirem, ainda que apenas na aparência, por pendurarem os problemas individuais, como fazem os frequentadores de teatros, em uma sala. Qualquer evento espetacular ou escandaloso pode se tornar um pretexto para fazê-lo: um novo inimigo público elevado à posição de número 1; uma empolgante partida de futebol; um crime particularmente ‘fotogênico’, inteligente ou cruel; a primeira sessão de um filme altamente badalado; ou o casamento, divórcio ou infortúnio de uma celebridade altamente em evidência. As comunidades guarda-roupa são reunidas enquanto dura o espetáculo e prontamente desfeitas quando os espectadores apanham os seus casacos nos cabides. Suas vantagens em elação à ‘coisa genuína’ são precisamente a curta duração de seu ciclo de vida e a precariedade do compromisso necessário para ingressar nelas e (embora por breve tempo) aproveita-las. Mas elas diferem da sonhada comunidade calorosa e solidária da mesma forma que as cópias em massa vendidas nas lojas de departamentos diferem dos originais produzidos pela alta-costura... Quando a qualidade o deixa na mão ou não está disponível, você tende a procurar a redenção na quantidade. (BAUMAN, 2005. p. 37) É possível observar o funcionamento das “comunidades guarda-roupa”, na atenção e torcida prestada por telespectadores, aos mais variados tipo de reality shows, oferecidos pelas redes de televisão. Também podem ser observadas em programas de auditório em que pessoas comparecem e relatam fato, dramas e sentimentos extremamente íntimos, expondo-os para que sejam comentados