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10365 palavras 42 páginas
REGINALDO PRANDI

Exu, de mensageiro a diabo.
Sincretismo
católico e demonização do orixá Exu

REGINALDO PRANDI é professor de Sociologia da FFLCH-USP e autor, entre outros, de Os
Candomblés de São Paulo
(Edusp) e Mitologia dos
Orixás (Companhia das
Letras).

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REVISTA USP, São Paulo, n.50, p. 46-63, junho/agosto 2001

I s primeiros europeus que tiveram contato na

O

África com o culto do orixá Exu dos iorubás, venerado pelos fons como o vodum Legba ou
Elegbara, atribuíram a essa divindade uma dupla identidade: a do deus fálico greco-ro

mano Príapo e a do diabo dos judeus e cristãos. A primeira por causa dos altares, representações materiais e símbolos fálicos do orixá-vodum; a segunda em razão de suas atribuições específicas no panteão dos orixás e voduns e suas qualificações morais narradas pela mitologia, que o mostra como um orixá que contraria as regras mais gerais de conduta aceitas socialmente, conquanto não sejam conhecidos mitos de Exu que o identifiquem com o diabo (Prandi, 2001, pp. 38-83). Atribuições e caráter que os recém-chegados cristãos não podiam conceber, enxergar sem o viés etnocêntrico e muito menos aceitar. Nas palavras de Pierre Verger,
Exu “tem um caráter suscetível, violento, irascível, astucioso, grosseiro, vaidoso, indecente”, de modo que
“os primeiros missionários, espantados com tal conjunto, assimilaram-no ao Diabo e fizeram dele o símbolo de tudo o que é maldade, perversidade, abjeção e ódio, em oposição à bondade, pureza, elevação e amor de Deus”
(Verger, 1999, pp. 119).
Assim, os escritos de viajantes, missionários e outros observadores que estiveram em território fom ou iorubá entre os séculos XVIII e XIX, todos eles de cultura cristã, quando não cristãos de profissão, descreveram
Exu sempre ressaltando aqueles aspectos que o mostravam, aos olhos ocidentais, como entidade destacadamente sexualizada e demoníaca. Um dos primeiros es-

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critos que se referem a Legba,

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