3
Adilson Schultz
Um dos textos mais significativos da obra do antropólogo Clifford Geertz é “Um jogo absorvente: notas sobre a briga de galos balinesa” Trata-se de um dos capítulos do livro
“A interpretação das culturas”. Rio de Janeiro – LTC, 1989.
Nela vemos todo o gênio do pesquisador ao captar todas as estruturas antropológicas da sociedade de Bali num evento aparentemente banal como a briga de galos, o esporte nacional naquele país, e a partir daí construir teorias explicativas da cultura local. Serve como um exercício-modelo para incursões em eventos significativos que explicam a sociedade brasileira.
Ao pesquisar a cultura balinesa, Geertz descobre a relevância da briga de galos como esporte nacional, um equivalente ao futebol brasileiro ou o beisebol norte-americano.
Para Geertz, grande parte da cultura de Bali se revela numa rinha de galos. “Da mesma forma que a América do Norte se revela num campo de beisebol [no Brasil seria num campo de futebol!], num campo de golfe, numa pista de corridas ou em torno de uma mesa de pôquer, grande parte de Bali se revela numa rinha de galos.” (p. 238)
Geertz logo acrescentará sua hipótese interpretativa:
“é apenas na aparência que os galos brigam ali – na verdade, são os homens que se defrontam.” (238). Na briga de galos, o povo encontra-se com o aspecto de animalidade e morte que ronda o ordenamento da vida. A violência e a morte, a força e a fraqueza, o vencer e o perder, acabam transformando a briga de galos numa representação da vida. A analisar a relação dos homens com os galos, Geertz chega a dizer que é como se os galos fossem extensões dos homens, sua expressão fálica.
Nesse contexto, o ciclo de apostas rigidamente estabelecido ao redor do jogo, respeitando as hierarquias sociais, faz migrar a hierarquia de status social para o corpo da briga de galos. O jogo acaba transfigurando a disputa de